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É 8 março em tempos pandêmicos e a luta continua…

Por Lucimar Rosa Dias[1]


A proposta de criação de um dia internacional da mulher foi de Clara Zetkin durante o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas ocorrido em 1910 em Copenhague. Portanto, sua gênese está calcada na luta por direitos defendidos pelo campo progressista que compreende a luta de classes como parte da luta contra a discriminação de gênero. A proposição vai ganhando força e se espalhando por diferentes países até que em 1975, A Organização das Nações Unidas (ONU) declara este como o Ano Internacional das Mulheres e oficializa a data. O propósito de instituir um dia é para demarcar as lutas contra a opressão, o preconceito e tudo que advém da concepção que compreende as mulheres como um grupo social inferior aos homens. Assim, ela serve para reafirmar a pauta feminista que sustenta a necessidade de considerar homens e mulheres sujeitos de direitos, iguais. Portanto, a sociedade como um todo deve ser organizar de modo a que homens e mulheres tenham as mesmas oportunidades de existência.

Imagem gráfica em degradê em tons de roxo e amarelo e com a borda lilás. Na parte superior, centralizado, há um círculo irregular amarelo e dentro dele, um número oito na cor branca. À direita do número, há a letra m em branco e em letra minúscula. Embaixo, está escrito em branco: É 8 de março em tempos pandêmicos mas a luta continua! Por Lucimar Rosa Dias. Abaixo, há  a ilustração de seis diferentes mulheres de perfil, olhando para a direita. No canto inferior direito, em branco, está a logo da SIPAD.
Artes: Bia Oliveira

Imagem gráfica em degradê em tons de roxo e amarelo e com a borda esquerda e inferior lilás. Na parte superior, há aspas grandes na cor amarela. Embaixo, centralizado, está escrito em letras brancas: Parece simples, quase óbvio. Se todos/as/es somos seres humanos somos iguais. Mas, se é assim por que homens podem muito mais socialmente?

Parece simples, quase óbvio. Se todos/as/es somos seres humanos somos iguais. Mas, se é assim porque homens podem muito mais socialmente? Basta escolher uma área da vida e poderemos constatar que são os homens que a define, mesmo naquelas que dizem respeito diretamente à mulher. A determinação sobre a legalidade do aborto, por exemplo, está nas mãos de homens e diz respeito ao corpo da mulher. O mercado de trabalho, diferentes práticas religiosas, a produção literária, os meios de comunicação, as relações afetivas, ou seja, tudo que diz respeito à vida das mulheres é afetado pela perspectiva masculina, pois ainda são os homens que ocupam em sua maioria os diferentes espaços de decisão.

Outro aspecto que a sociedade estruturada no patriarcado produz são os inúmeros crimes de feminicídio. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) o Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídios no mundo: 4,8 para 100 mil mulheres e só no primeiro semestre de 2020 aumentaram em 1,9% conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Quando se trata de travestis e mulheres trans a violência piora muito. O Brasil lidera o ranking de assassinatos que em 2020 foi de 70%, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

Agrava-se, o quadro da opressão às mulheres quando a variável raça se apresenta. Tudo, tudo mesmo, fica mais difícil para as mulheres negras. Uma das primeiras mortes de covid 19 no Brasil foi uma mulher negra do Rio de Janeiro empregada doméstica. E qual mulher negra não sofreu com a morte do menino Miguel, enquanto sua mãe Mirtes, outra empregada doméstica, levava o cachorro da patroa para passear? Quantas, babás, empregadas domésticas, auxiliares de serviços gerais, técnicas em enfermagem estão expostas a contaminação do coronavírus? Quantas mais perderam o emprego nesta pandemia? As mulheres negras que estão há muito tempo na base da pirâmide social, continuam sedimentando a riqueza deste país, com seus corpos, com suas vidas e a pandemia só fez aumentar esta desigualdade.

Imagem gráfica em degradê em tons de roxo e amarelo. Sobre esse fundo, há uma caixa de texto lilás e irregular, ela se assemelha a um pedaço de papal. Na parte superior, há aspas grandes na cor amarela e embaixo, está escrito em branco: Agrava-se, o quadro da opressão às mulheres quando a variável raça se apresenta. Tudo, tudo mesmo, fica mais difícil para as mulheres negras.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) dão conta de que a taxa de desemprego em 2020 atingiu mais pretos com 17,8%, depois os pardos, 15,4%, e brancos, 10,4%. Podemos afirmar sem nenhuma dúvida que as mulheres negras são as mais vulneráveis neste grupo, pois o comércio e o serviços doméstico estão entre os que menos tiveram taxa de ocupação, justamente onde estão as mulheres negras. Outro aspecto que atinge as mulheres negras é o fato de que as aulas no Brasil inteiro estão suspensas para evitar o aumento da taxa de contaminação (o que está correto), no entanto, isso impõe as mulheres negras periféricas buscar alternativas para continuarem trabalhando (quando conseguem) e manterem seus filhos sob os cuidados de alguém. Já que 63% das famílias em que as mulheres negras são as principais responsáveis estão abaixo da linha da pobreza segundo levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística na “Análise das Condições de Vida da População Brasileira” (2019).

A morte produzida pelo patriarcado está sempre espreitando um corpo feminino seja simbolicamente seja de forma material. Se é branca. Mata. Magô Presente! Se é travesti. Mata. Dandara Presente! Se é Lésbica. Mata. Ana Mickaelly Presente! Se é negra. Mata. Claudia Ferreira Presente! Nenhuma mulher está livre do facão assassino do machismo. E por isso, de acordo com Chimamanda Ngozi Adichie (2015) é necessário que precisamos educar a todos/as/es, sejamos feministas, pois só assim toda a sociedade poderá se libertar dos padrões que impedem que sejam livres. Cada um de nós pode ser semente que germina a igualdade de gênero, de classe, de raça.

Imagem gráfica em degradê em tons de roxo e amarelo. Sobre esse fundo, há uma caixa de texto circular e lilás, ela se assemelha a um adesivo e tem a ponta inferior direita levantada. Na parte superior dessa caixa de texto, há aspas grandes na cor lilás e embaixo, está escrito em lilás: Então… 8 de março  em tempos pandêmicos nos coloca de frente para uma realidade extremamente dura, difícil para qual requer de todos, todas e todes um compromisso ativo com a vida das mulheres, e posso dizer, especialmente das mulheres negras.

Por isso, as mulheres mantem a luta contínua, por espaço, por poder. Nas eleições municipais de 2020, cresceu o número de negras, trans, indígenas como vereadoras, no entanto, o percentual é ainda muito abaixo do correspondente ao que somos na população brasileira (51,8%), porém já é um alento e mostrando que em nenhum momento da história nos conformamos com a desigualdade de gênero.

O 8 de março em tempos pandêmicos nos coloca de frente para uma realidade extremamente dura, difícil para qual requer de todos, todas e todes um compromisso ativo com a vida das mulheres, e posso dizer, especialmente das mulheres negras.  Se você chegou até aqui na leitura deste texto dê um passo a mais, siga em frente e colabore de forma efetiva para mudar a vida de mulheres. Sugiro para isso duas campanhas que tem por objetivo atender a quem tem fome e projetos com foco na mulher. (https://www.natalsemfome.org.br/ https:/   /conteudo.fundobrasil.org.br/lucimar_rosa_dias) Pois, como disse Angela Davis disse: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.” Mova-se! A luta continua…

[1] Professora da UFPR, cursos de Pedagogia e Programa de Pós-graduação em Educação. Coordenadora do ErêYá – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação para as Relações Étnico-Raciais.

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